22 de set. de 2014

Residências Terapêuticas em Euclides da Cunha e Araci recebem moradores de internação psiquiátrica prolongada

Redação Portal Cleriston Silva PCS 

Sem vínculo familiar há 16 anos, desde 1998, quando foi internado na maior unidade de tratamento de pessoas com transtornos mentais da Bahia, o Hospital Especializado Lopes Rodrigues (HELR), em Feira de Santana, Antônio Souza, 48, deu os primeiros passos de uma nova vida fora dos muros manicomiais na última sexta-feira (19).

Um dia marcante, para ser lembrado como mais uma etapa bem planejada e concluída com êxito da Reforma Psiquiátrica no Estado, quando oito moradores do hospital psiquiátrico (Antônio Souza, Maria do Carmo, Osvaldo Veloso, Marquinhos, Paulinho, Cecília, José Arnaldo e Tonho) foram morar, em definitivo, em uma Residência Terapêutica no município de Euclides da Cunha, a 143 quilômetros de Serrinha. Após esta terceira etapa de reintegração, ainda restam 145 moradores no HELR.

Natural do município, localizado na região nordeste do estado, Tonho como é mais conhecido, migrou para São Paulo ainda jovem para buscar trabalho no Sudeste do país. Sem sucesso, ele voltou à Bahia e chegou a viver em situação de rua, em Salvador, quando foi internado no Hospital Juliano Moreira, por apresentar transtornos psíquicos, e posteriormente foi transferido para o HELR, perdendo todo o contato com o mundo fora da instituição.

“Fiquei jogado na rua, sem parente, sem nada. Depois passei todo esse tempo dentro de um hospício. Mas, agora, estou em casa, muito satisfeito, e um dia vou procurar minha família, que mora aqui perto”, disse Antônio, que sempre foi de poucas palavras, mas hoje apresenta autonomia compatível com a vida em liberdade. Ainda no Lar Abrigado, um espaço de convivência, sem leitos hospitalares, que prepara os moradores para o convívio nas residências terapêuticas, Antônio conheceu Maria do Carmo, sua companheira para essa nova jornada.

Reintegração social -  O processo de desinstitucionalização desses indivíduos, ou seja, a retirada de uma pessoa da condição permanente de interno em uma instituição é resultado do esforço dos profissionais de diferentes áreas da ‘Equipe Desinsti’ do HELR, da Área Técnica de Saúde Mental, da Diretoria de Gestão do Cuidado da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), por meio do diálogo com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e a pactuação junto aos municípios baianos para a implantação dos Serviços de Residência Terapêutica (SRT).

Esses serviços foram instituídos pelo Ministério da Saúde como parte da Política de Saúde Mental para funcionar como moradias dentro da cidade destinada à reinserção social de pessoas com transtornos mentais, com histórico de internação prolongada e que perderam todo o contato com a família e a sociedade.

“Esse é procedimento ímpar, onde todos os servidores estão envolvidos. É um trabalho árduo. O primeiro passo é que o morador precisa querer sair da instituição. Depois, é preparado para a reinserção à sociedade, pois alguns passaram a maior parte da vida enclausurados, privados de liberdade e perderam o referencial do que é o mundo fora, aqui”, explicou a diretora do HELR, Iraci Leite. A diretora de Gestão do Cuidado da Sesab, Liliane Mascarenhas, destacou este momento para o movimento antimanicomial na Bahia como uma “ação histórica para a saúde mental”. A coordenadora de Psicologia do hospital, Tahiri Nicoletti, a sensibilização dos municípios do interior nos quais algum morador nasceu é o primeiro passo. Após essa fase, vem a estimulação da autonomia dos usuários e a apresentação da nova casa.

Acolhimento - Em Euclides da Cunha, os novos moradores foram recebidos na cidade pela prefeita Fátima Nunes Soares e outras autoridades municipais e por representantes do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que atuarão como referência, dando suporte e acompanhamento constante aos moradores da RT e pelos cuidadores que ficarão à disposição deles.

Na última quarta (17), outros seis moradores (Teodora, Ângela, Lauro, Roque, José e Laureano) foram para a Residência Terapêutica no município de Araci, a 35 quilômetros de Serrinha. Entre eles, está Lauro Magalhães, 71, que viveu metade da vida internado e nunca foi alfabetizado. Ele chegou ao HELR em 1977, há 37 anos, vindo do Juliano Moreira, sem referência familiar. Em todo esse tempo nunca recebeu uma visita. Os primeiros seis primeiros ex-moradores do hospital foram para o município de Coração de Maria no dia 28 de agosto deste ano. Na ocasião, os gestores e profissionais do Caps os acolherem de forma calorosa.

Residências Terapêuticas em Euclides da Cunha e Araci recebem moradores de internação psiquiátrica prolongada
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