Redação Portal Cleriston Silva PCS
Indispensáveis em ambientes ambulatorial e hospitalar, e também em situações variadas de nosso "novo normal", luvas, máscaras descartáveis e tubos de ensaio são objetos cujo descarte sempre exige cuidados. Pensando assim, alunos do primeiro ano do Ensino Médio técnico em análises clínicas, do Colégio Cetep Sisal II, no município de Araci, resolveram encarar o desafio de solucionar o problema de acúmulo de lixo por conta da necessidade do uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI's) nesses ambientes. O resultado foi uma luva de proteção fabricada com um plástico biodegradável produzido a partir do sisal, uma planta orgânica, abundante na região de Araci. O projeto baiano concorre na nona edição do programa Solve For Tomorrow Brasil, realizado pela Samsung.
O grupo de alunos concorrente é composto por Isabel Oliveira, 16; Sarah Moura, 15; Adrielle Pietra, 15; Maria Isabella, 15; e Luan Santos, 15. A partir de conversas em sala de aula e do incentivo da professora de anatomia e fisiologia, Pachiele da Silva Cabral, a turma começou os estudos para criar a luva de material biodegradável. O problema que motiva a pesquisa se mostra pulsante e atual. No auge da pandemia, em 2020, cerca de oito bilhões de luvas foram importadas para o país, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços . A necessidade de se pensar no descarte de todo esse material é urgente e a utilização do sisal na solução dessa questão dá um toque especial à iniciativa.
Diferente do plástico comum que, segundo cálculo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), leva 450 anos para se desintegrar na natureza, a luva criada pelo grupo desaparece em três semanas. Tudo isso com qualidade, resistência e proteção ainda maiores do que as dos equipamentos de proteção que já circulam no mercado.
Tamanha contribuição para a redução do impacto ambiental não passou despercebido pela nona edição do programa Solve For Tomorrow Brasil, da Samsung, que estimula alunos e professores da rede pública a criarem soluções inteligentes para demandas das comunidades onde vivem, por meio da abordagem Stem - sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Competindo com mais de dez mil projetos no início da disputa, o grupo ficou entre 20 semifinalistas e, agora, está entre os 10 finalistas nacionais, representando a Bahia.
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Projeto foi apresentado na Feira de Ciências, Empreendedorismo e Inovação da Bahia e é finalista de competição de inovação da Samsung
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“Inicialmente pensamos em diminuir o lixo, mas isso não teríamos como, porque estamos falando de equipamentos indispensáveis. A nossa solução então foi pensar maneiras em reduzi-lo e, para nossa surpresa, tivemos todas as expectativas superadas”, diz a professora Pacchiele para depois contar que o grupo planejava a criação de um material que se desintegrasse em espaço entre seis e oito meses - tempo estimado para o plástico biodegradável. Só que o plástico feito com sisal mostrou-se de performance muito melhor, decompondo-se em três semanas.
Além do sisal, a mistura que gera o plástico leva também polvilho doce, vinagre, glicerina e corante. “São todos produtos acessíveis, para garantir que a produção seja de baixo custo”, explica a integrante do grupo, Isabel Oliveira. Cada luva custa de R$0,25 a R$0,30 para ser fabricada. Ao todo, a equipe levou quase cinco meses para ver o protótipo pronto. E nada é perdido no processo. Como apenas a película que envolve o sisal é usada, a remoção é feita sem destruir o resto da planta e dessa forma ela ainda pode ser utilizada pelos agricultores, que fazem o desfibramento - remoção das fibras - para comercialização.
Desde que a ideia estava apenas no papel, Isabel acreditou tanto nela que trocou o curso para desenvolvê-lo. Para formação técnica ela havia escolhido estudar segurança do trabalho, mas, agora, faz análises clínicas, assim como os demais colegas de pesquisa. “A ideia me cativou muito e, desde então, quero continuar nesse mundo de descobertas. A ciência é onde eu me encontrei”, declara a estudante. Para Sarah Moura, outra integrante do grupo, essa é uma responsabilidade grande. “Alunos do primeiro ano do Ensino Público, indo para São Paulo representar a nossa Bahia em uma competição global, é o que queremos ver constantemente, e é isso que a ciência está fazendo”, celebra.
A diretora de marketing corporativo da Samsung Brasil, Anna Karina Pinto, ressalta que o Solve For Tomorrow atingiu um crescimento expressivo neste ano, com aumento de 65% no número de alunos inscritos em comparação com 2021. Desde 2014, dimensiona a diretora, já foram envolvidos na iniciativa mais de 168.559 estudantes, 36.420 professores e 6.049 escolas públicas. “Nosso foco é em promover a discussão e o desenvolvimento de ações focadas em soluções para problemas reais, por isso vemos que esta conexão com o cenário regional é fundamental”, destaca Anna Karina.
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Luva biodegradável é desenvolvida por cinco estudantes de escola pública - na imagem, aparecem respectivamente: Luan, Maria Isabella, Pachiele (professora e orientadora), Adrielle, Isabel e Sarah |