26 de nov. de 2017

Mais de 50% das mulheres que menstruam todo mês não gostam

Redação Portal Cleriston Silva PCS

Ela é daquele tipo de visita que, tão logo chega, a gente já quer que vá embora. É que a menstruação provoca uma ebulição dos hormônios e ainda pode vir acompanhada de oscilações de humor, enxaqueca, dores no corpo, cólicas e um desconforto que só quem tem sabe como é. É a famosa Tensão Pré-Menstrual (TPM). Pesquisa realizada pelo Datafolha em oito capitais brasileiras, incluindo Salvador, apontou que 85% das mulheres menstruam mensalmente, embora 55% admitam que não gostam.

O levantamento mostra ainda que 39% das que curtem menstruar dizem que se sentem saudáveis, 25% consideram como algo natural, 24% destacam que é um indicativo de que não estão grávidas e 10% enxergam a menstruação como uma forma de limpar o corpo. Para as que não gostam, 52% colocam entre as razões o incômodo e o desconforto, 46% as cólicas e 20% a irritação. Quando questionadas sobre as ocasiões que se sentem mais incomodadas, 68% falam da ida à praia ou piscina, 57% de quando querem ter relações sexuais e 44% citam a prática de atividades físicas.

Ginecologista e obstetra no Hospital Albert Einstein, José Bento diz que, ao longo dos anos, foram ensinando que a menstruação era uma coisa boa, que o sangue era sinal de que estava com saúde. “Não precisa menstruar para saber se está com saúde, vai ao médico. Se quer saber se está grávida, faz o teste ”, orienta.

O especialista argumenta ainda que suprimir a menstruação é uma maneira de cuidar da saúde da mulher. “Sem menstruar, ela vai ter menos infecções ginecológicas, menos chances de cisto no ovário, de mioma no útero e de endometriose. Dados do Ministério da Saúde apontam que 30% das brasileiras têm anemia por causa da menstruação”, lista, acrescentando que a mulher deve ter a liberdade de escolher menstruar quando quiser.

Famoso pela tese de que a “menstruação é uma sangria inútil e desnecessária”, o ginecologista Elsimar Coutinho diz que é possível implantar hormônio e ficar três anos sem menstruar. “Quem menstrua joga fora o óvulo todo mês. Chega aos 35, 40 anos, quando decide ter filhos, os óvulos estão envelhecidos. Quem não ovula, não menstrua e guarda os melhores óvulos”.

Presidente da Sociedade Baiana de Ginecologia (Sogiba), Carlos Lino explica que para parar de menstruar é preciso usar algum hormônio, a única exceção é quando ocorre a retirada do útero. O médico José Bento cita ainda outras duas situações em que a mulher deixa de menstruar: durante a amamentação, porque a prolactina diminui a quantidade de estrogênio, progesterona e testosterona, e quando realiza muita atividade física, a exemplo das atletas. Nesse caso, como as mulheres produzem os hormônios através do colesterol, com ele muito baixo, o organismo fica impossibilitado de produzir toda a cadeia hormonal, explica o médico.

Efeitos colaterais - Só que o uso de hormônios pode vir acompanhado de efeitos colaterais. “Provoca retenção hídrica, aumenta o número de vasos, ganho de peso e dor de cabeça. Mas, ao mesmo tempo, há muito mais vantagens em não menstruar”, avalia. No entanto, ele reconhece que há situações em que a mulher deseja menstruar e que o direito dela deve ser respeitado. O ginecologista explica que entre suas pacientes há quem ache que quando sangra se sente melhor, mais segura em saber que não engravidou e há ainda a preocupação de que, se não menstruar, o sangue vai ficar retido em algum lugar. “Esse sangue continua no vaso sanguíneo”, diz.

Escolha - Segundo a pesquisa, entre as mulheres que usam algum tipo de método contraceptivo (60%), a pílula é o mais comum (34%), seguida da injeção hormonal (15%) e preservativo (7%). Além disso, metade das entrevistadas já emendou uma cartela em outra – considerando que apenas 33% delas consultou o ginecologista antes.

O estudo foi encomendado pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) em parceria com a Bayer, que acabou de lançar no mercado brasileiro o Yaz® Flex, contraceptivo oral com o ciclo flexível que permite à mulher escolher quando menstruar. “A pesquisa mostra que 89% se sentiriam confortáveis em poder decidir quando menstruar”, informou o presidente da Febrasgo, César Fernandes.

Mitos e verdades sobre a menstruação

Verdade Mulheres com muita convivência menstruam juntas
Mito Alimentos cítricos interferem no fluxo da menstruação e abacaxi provoca cólica
Verdade O DIU de cobre aumenta a cólica, o fluxo e a duração da menstruação
Mito Alguns chás podem antecipar a menstruação
Verdade Ter relações sexuais menstruada aumenta os riscos de contrair Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs)
Mito Água do mar corta a menstruação
Verdade Praticar relações sexuais durante a menstruação não engravida
Mito Menstruação aumenta a libido
Verdade Atletas ou pessoas que praticam muitas atividades físicas podem ficar sem menstruar

‘É preciso ter olhar mais amplo sobre menstruação’ - A menstruação é um fenômeno biológico, mas na avaliação da professora de Antropologia e pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim) Cecília Sardenberg, é preciso deixar o olhar simplista de lado e enxergá-la também do ponto de vista social e cultural.

“Em sociedades que não são capitalistas, a TPM não existe. Elsimar Coutinho fala em sangria inútil, mas claro que não é. Em várias sociedades, as mulheres se recolhem em uma casa só de mulheres durante a menstruação. Há sociedades que veem a mulher menstruada como poderosa”, argumenta, acrescentando que parar a menstruação não é bom para a mulher. “Pode acelerar a menopausa. São muitos hormônios que elas têm que tomar para isso”.

A bióloga Fabiana Quintela, 30 anos, que integra um grupo que reúne mulheres em torno da bênção do útero e relaciona os ciclos da mulher com a lua, diz que não dá para discutir menstruação, sem falar de patriarcado, machismo, estrutura social trabalhista, gestão de saúde, autoconhecimento e a biologia das fêmeas.

Ela destaca que a menstruação é um processo natural do corpo feminino, porém não aceito. “A gente é ensinada quando menstrua que precisa tomar anticoncepcional porque é uma forma de controlar a menstruação, a oscilação de humor e a cólica. Entramos num estado de inconsciência do que é ser mulher e de como lidar com esse corpo feminino. A gente se desconectou muito desse corpo feminino”, avalia.

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