2 de mai. de 2012

Donos de cacimba no meio da seca, irmãos oferecem água de graça para a população

Redação Portal Clériston Silva PCS 

Tudo em volta é só beleza. Bem-te-vis, rolinhas e até um sofrê sorriem cantos de alegria. A vegetação, enfim, é pintada de verde. Estamos no centro da seca, em uma das regiões mais castigadas pela estiagem na Bahia, e o cenário aprazível parece zombar da falta de chuva. O motivo desse oásis de felicidade no meio do deserto é uma cacimba, um milagre em forma de minadouro d’água.

Instalada em um sítio isolado às margens da BA-381, a exatos oito quilômetros de Itiúba, semiárido baiano, a cacimba, e tudo o que está a alguns metros dela, é um impressionante contraste perto de todo o resto. Enquanto quase a totalidade dos rios, açudes e outras fontes está vazia naquela região, a cacimba permanece doando um bem precioso em qualquer tempo, principalmente em períodos como o atual.

Dali, sai água inesgotável para vários povoados, comunidades, fazendas e lugarejos próximos. E o melhor. A qualidade da água é considerada excelente. “É o mesmo que mineral”, repetem os romeiros da sede. Sim, o lugar é quase um ponto de romaria para os moradores que sofrem com a falta d´água. “Isso aqui é a nossa salvação, meu amigo. É água boa mesmo. Água de beber sem precisar nem filtrar”, garante João Barros de Souza, 78 anos, morador do povoado de Vasinha da Zoleira, a três quilômetros da fonte. Por lá, aparecem também gente de Jacuri, Taquara, Piaus, Camandaroba, Andorinha e muitos outros municípios e lugarejos.

Soberanos - Em terra de seca, quem tem uma cacimba é rei. Os irmãos Adão e André Carvalho, donos da propriedade onde fica a cacimba, reinam soberanos em pleno sertão. Mas, o que seria fonte de poder e dinheiro é um minadouro de solidariedade. No momento em que a água tá valendo ouro pelas bandas de Itiúba, os irmãos poderiam acumular uma boa quantia e até poderiam ficar ricos. Isso se cobrassem um valor pela ‘especiaria’.

Mas, Adão e André não cobram um centavo pelos mais de 45 mil litros de água retirados de sua cacimba. “Deus nos presenteou com essa água para ajudar o próximo. Seria um pecado cobrar por ela em um momento como esse”, diz André, 38 anos. Basta chegar a pé ou encostar o carro. Quem quiser pode levar água. Há apenas duas regras. A primeira é que não é permitido caminhões-pipa no local. A segunda é que cada pessoa pode carregar apenas 400 litros de água.

Infinita - Mas, o que faz dessa cacimba uma fonte infinita? Até o rio que passa pela mesma propriedade de Adão e André, um dos afluentes do rio Jacuriri, secou completamente nesse período. “Essa cacimba tem 32 minadouros d´água. Deve ser água subterrânea. Cai devagarinho e sempre”, explica Adão. No final das contas, a cacimba foi um verdadeiro achado para a equipe do CORREIO. O lugar acabou sendo encontrado por acaso.

O fotógrafo Arisson Marinho resolveu descer do carro para registrar a miséria dos pastos sem capim e deu de cara com um grupo de vaqueiros a cavalo, que revelou o tesouro sem qualquer cerimônia. “Ali perto tem um lugar com água boa”, indicaram. “Como assim, água? Tá tudo seco por aí”, espantou-se o fotógrafo. “Mas lá tem água, sim. E não acaba nunca”. Voltamos uns 800 m pela estrada, descemos um barranco e lá estava o oásis, cercado de verde.

No dia em que encontramos a cacimba, porém, algumas pessoas não puderam levar água para casa. É que os irmãos decidiram lavar a fonte naquela manhã, o que não acontecia desde 1999. De tanto ser visitada e remexida, o barro que fica assentado no fundo subiu. Nesse caso, é preciso um mutirão para retirar a lama e dar um tempo para a sujeira descer novamente, enquanto os minadouros renovam a água limpa.

Filas - Por isso, quem ia ao local lamentava ter que sair com seus recipientes vazios. “É uma pena. Essa água tá me servindo muito. Vou ter que procurar outro lugar. Mas igual a esse vai ser difícil”, disse João Santos Oliveira, 57, com o carro cheio de vasos vazios. Muitos acabavam ficando para ajudar no mutirão. Em três horas, toda a lama seria retirada. Aí foi só esperar mais três dias e novas filas voltaram a se formar no belo sítio da família Carvalho. Ali, não falta água, nem vontade de ajudar quem precisa.

Avô deixou lição de solidariedade - Pode ser a seca que for e a cacimba da família Carvalho vai sempre oferecer água gratuita.“Toda seca é assim. A última, entre 1992 e 1996, o povo tirou água durante quatro anos e ela não esvaziou. Nunca cobramos um real”, diz Adão Carvalho. Lição de família transmitida pelo avô, Antônio Carvalho - já falecido - e pelo pai, seu Jorge Carvalho, que hoje é o verdadeiro dono do sítio. “Se meu avô e meu pai nunca cobraram, porque iríamos cobrar agora?”. A dupla tem mais um irmão, mas ele mora em Salvador.

No máximo, pelo fato de a cacimba estar colocada na descida de um barranco, os irmãos pensaram em instalar uma bomba para levar água direto para a pista. Serviria direitinho aos mais idosos ou outras pessoas que, por acaso, não quisessem se dar o trabalho de descer a pirambeira. Pela manutenção da estrutura, os irmãos pensam em cobrar R$ 1 real por pessoa. “Meu pai, inclusive, foi contra a instalação dessa bomba, porque seríamos obrigados a cobrar um valor. Mas as pessoas insistiram tanto que ele acabou se convencendo”.

Seu Batista caminha 5 km até a cacimba - Não parece, mas esse homem aí do lado é um gigante. “Minha altura? Um metro e um pouquinho”, diz ele, não aparentando ter mais de um metro e meio. Paulo Batista de Souza, 65 anos, caminhou 5 quilômetros com um recipiente quase dois terços do seu tamanho. Tudo para dar de beber a esposa, quatro filhos e dez galinhas. “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas”, estava escrito em sua camisa. Seu Batista não precisou dar a vida, mas enfrentou com muita disposição a estrada até a cacimba da família Carvalho. Morador do povoado de Camandaroba, distrito de Ramos Campos, ele deu sorte. Conseguiu encher o recipiente antes de os donos iniciarem a limpeza da fonte. “Logo depois eles começaram a limpeza. Aí resolvi ficar para ajudar. A gente tem que retribuir, né?”, disse seu Batista.

O problema seria carregar 80 litros de água, sozinho, por mais 5 quilômetros de volta. Batista pode ser pequeno, mas não é nem um pouco besta. “Acertei com o carro da feira e ele vai passar aqui para me pegar. Ele passa todo dia esse horário por essa estrada”. Desde que a seca começou a castigar, tem que voltar na cacimba de oito em oito dias. Em Camandaroba, não existe água encanada e as cisternas das casas estão todas vazias. Os açudes secaram e os rios não correm mais. “Essa cacimba é um paraíso, uma dádiva de Deus para o pessoal sofrido da região. A gente tem que agradecer primeiro a ele e depois a seu Jorge, Adão e André”. (Correio da Bahia)

2 comentários:

  1. Deus tudo pode foi ele que construio esta maravilha q ele abençoe esses irmaos sempre .

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  2. q coisa maravilhosa deus abensoi esse dois anjos de deus q este fazendo o bem a muitas pesoas ainda exste pessoas de bom coracao

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