24 de out. de 2012

"Foi o dia mais feliz da minha vida”, diz rapaz que chocou a família ao chegar no próprio velório

Redação Portal Clériston Silva PCS 

O lavador de carros Gilberto Araújo Santos, 41 anos, morreu no último sábado. Morreu e, dois dias depois, se tornou o homem mais feliz do mundo. Na segunda-feira, Gilberto ganhou a oportunidade que, até onde se tem notícia, nenhum ser humano teve até hoje. Assistiu à cena do seu próprio velório. 

Dado como morto, o lavador voltou para mostrar que há vida após a morte. Apareceu de repente no local em que sua família lhe dava o último adeus. Enchiam a sala da casa de sua mãe, na zona rural de Alagoinhas, a 107 quilômetros de Salvador. Estavam velando a pessoa errada.

Gilberto se diverte e posa no jazigo do pai, onde ele seria enterrado

Quando Gilberto chegou, minutos antes de o corpo ser levado ao cemitério, uns desmaiaram, outros correram com medo, mas a maioria fez festa. “Aquele povo todo me abraçando, me beijando. Pude perceber que as pessoas me amam. Foi o dia mais feliz da minha vida”, comemorou. Se bem que, por alguns instantes, o próprio Gilberto teve dúvidas de que estivesse mesmo vivo. “Quando me aproximei do caixão, pensei: ‘Meu Deus, será que sou eu aí? Será que estou vivo e morto ao mesmo tempo’?”. 

Identificação - Toda a confusão começou com um erro na identificação do corpo de outro rapaz, também lavador de carros, morto a tiros no sábado. E o mais impressionante. O crime aconteceu a uns 300 metros de onde Gilberto estava. “Fiquei sabendo dos tiros e fui ver. Vi ele no chão ainda vivo e fui embora”.

Um funcionário do hospital para onde a vítima foi socorrida avisou a um primo que um homem muito parecido com Gilberto tinha ido a óbito. O irmão do lavador foi chamado e não teve dúvida: “É ele”. Fazia semanas que Gilberto não ia na casa da mãe. Dividia apartamento com um colega. Para completar, o real morto era muito parecido com ele.

Com o corpo devidamente reconhecido, a família pagou R$ 800 pelo caixão e serviços funerários. O velório atravessou a madrugada. Não faltou comida e bebida. “Foi suco, café, pão, bolacha e muito choro”, conta a mãe de criação de Gilberto, Marina Souza Santana. “A gente beijou a testa dele a noite toda”. Amanheceu e a família foi resolver a papelada. Foi quando um colega do irmão avistou Gilberto na rua. “Rapaz, enquanto você tá aqui vivo, sua família ficou de sentinela a noite toda velando seu corpo”. Gilberto chegou a ligar para casa, mas acharam que era trote. Teve que aparecer de supetão. “Saímos da tristeza para o susto. E do susto para a alegria”, conta dona Marina.

Junto das cinzas da fogueira montada para enfrentar a noite, o irmão que fez o reconhecimento do corpo parecia ainda confuso ontem. “Normalmente, a ficha demora a cair quando alguém morre. Agora não consigo acreditar 100% que ele está vivo”, disse o açougueiro José Marcos dos Santos, 35. “Se tivesse dinheiro, fazia um teste de DNA. Meu pai andou aprontando por aí”.

Incrível semelhança entre o morto e Gilberto confundiu até a família

Repercussão - Em Alagoinhas, ontem Gilberto virou quase uma celebridade. Recebeu acenos, abraços e beijos de anônimos. “O Fantástico vem aí. É arriscado Ana Maria Braga vir me buscar. E olhe que sei cozinhar, viu! Mas sei que isso é passageiro”. Bem-humorado, quase eufórico, Gilberto foi à funerária que preparou seu enterro. “Eles não querem devolver o dinheiro”, disse.

Também deu uma passada no cemitério. Deitou sobre o jazigo número 3.986, onde seria enterrado junto com o pai. “Aqui é a morada final de todo mundo. Eu só adiei minha mudança”, acredita. Na saída, posou para foto ao lado do coveiro que iria cuidar do seu sepultamento. “A gente tava esperando o corpo chegar para fazer o serviço. O cara só vai no tempo certo. E esse aí ainda vai viver muito”, decretou o coveiro, Miguel Mendes, 49.

O verdadeiro morto ainda está sem identificação. Ninguém fez o reconhecimento do corpo. “Chamavam ele de ‘Nêgo da Lata’”, conta Gilberto, que agora vai ter que provar oficialmente que está vivo. “No cartório eu ainda estou morto”.

Nessa história toda, há uma prova de que Gilberto goza de plena saúde. O nosso morto-vivo não pode ver um rabo de saia. Bastava passar uma mulher de curvas mais generosas para ele largar. “Ali eu morro de verdade”.

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