9 de out. de 2011

Abates clandestinos continuam em Euclides da Cunha

Há muitos anos que os moradores de Euclides da Cunha, a 140 km de Serrinha, consomem carne com baixo nível de higiene, cuja origem resulta do abate clandestino de animais bovinos, ovinos, caprinos e suínos, realizado diariamente em áreas próximas ao centro urbano. O animal é abatido sem nenhum controle de saúde, de forma cruel e em precárias condições. Há sérios riscos de transmissão de doenças para a população.

Diariamente, são abatidos de forma clandestina cerca de 15 bovinos e dezenas de outros animais de produção. Um flagrante desse crime foi feito neste sábado de feira-livre, 08, às 7 horas, em um terreno que fica situado no bairro Caixa D’água. Os ovinos são puxados por uma corda até o ponto de abate, onde são mortos de forma cruel, com várias furadas na região do pescoço. Não há higiene. A carne fica sob o chão. Sangue e vísceras são tratados ali mesmo, na presença de crianças e de cães. Sem fiscalização sanitária que atinja todo o município, animais doentes podem ser abatidos no local.

Para o gerente da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), o veterinário Jeferson Carneiro, que compareceu ao local, após denúncia anônima, e presenciou os infratores tirando, ainda, as peles dos animais expostos na estaca da cerca que rodeia o terreno, o consumo de carne proveniente do abate clandestino traz inúmeros prejuízos à saúde. As condições de higiene não são respeitadas, os equipamentos utilizados são inadequados e os produtos são transportados sem nenhum cuidado. Isso sem falar no sofrimento causado aos animais e nos danos ao meio ambiente.

Jeferson Carneiro, que compareceu ao local com rapidez e presteza, conversou com os infratores e notificou-os. “Na verdade a minha conversa foi de conscientização, já que o matadouro de ovino/caprino mais próximo de Euclides da Cunha fica em Pintadas, uma distância muito longa. Os mesmos se comprometeram em não abater mais os animais sem os cuidados necessários. E pude frisar que os abates clandestinos não serão mais tolerados, toda a carne será apreendida”, disse o gerente da ADAB.

Segundo moradores, ainda foi feita uma denúncia através do telefone 190 para a Polícia Militar de Euclides da Cunha, mas nenhuma viatura foi até o local.

A carne de origem clandestina chega ao mercado público local e a outros pontos de venda em transporte precário e sem condições adequadas de higiene. A interdição administrativa do único matadouro que existia na cidade foi feita pelo Ministério Público em dezembro de 2007, e permanece até hoje, a pedido do Ministério Público Estadual (MPE).

A situação atual é considerada grave tanto pelo município, quanto pela Promotoria de Justiça. Mas, enquanto a construção do novo matadouro não é iniciada a população sofre com o problema e está exposta a contrair doenças em face do consumo de carne de animais abatidos sem inspeção veterinária e também sanitária.

Em dezembro de 2007, o MP ingressou com ação civil pública contra o município e solicitou visita técnica e laudo de inspeção sobre as condições físicas e de funcionamento do matadouro. Os técnicos constataram a precariedade da unidade. Em laudo técnico, apresentaram os seguintes itens: abate de animais de forma cruel com uso de marreta e machado, carcaças jogadas a céu aberto, resíduos sólidos acumulados e falta de estação de tratamento de esgoto e das águas servidas.

O relatório revelou ainda a falta de brete de contenção dos animais, precária condições de estrutura externa e interna, paredes sem revestimento e piso danificado e permeável, contato da carne com o piso, ausência de mesa de inspeção sanitária e transporte inadequado da carne para o comércio.

Prejuízo - O maior prejuízo causado pelo abate clandestino é a possibilidade de transmissão de doenças aos consumidores. Em média, 0,65% dos bovinos abatidos em estabelecimentos com Serviço de Inspeção Federal, SIF, (aproximadamente 192 mil animais/ano) são desclassificados para o consumo humano direto devido à ocorrência de diversas lesões ou doenças identificadas durante a inspeção oficial de abate. Doenças e zoonoses como a cisticercose, tuberculose e brucelose, transmissão iminente em função do abate clandestino.

Além de infração a diversos instrumentos regulatórios e administrativos, puníveis com a interdição do estabelecimento, multas, condenações de produtos e outras sanções administrativas, o abate clandestino é crime previsto na Lei 8.137/1990, podendo ser punido com prisão de dois a cinco anos.

Conscientização - Pesquisador e chefe-geral da Embrapa Gado de Corte, Cleber Oliveira Soares, explica que um dos motivos que leva ao abate clandestino no Brasil é a falta de um trabalho de educação e conscientização dos produtores quanto a necessidade de se realizar um manejo pré-abate e pós-abate em instalações adequadas e que garantam a qualidade sanitária e técnica da carne.
“A tecnologia para isto já existe, o que falta, é fazer com que esta chegue até os produtores e que seja adotada por eles”, aponta Soares.

Entre os riscos do abate clandestino, estão os sanitários, oriundos da contaminação da carne e que trazem malefícios a saúde dos consumidores devido à presença de bactérias.

De acordo com Soares, o abate clandestino é sinônimo de preocupação para a cadeia da pecuária de corte nacional, pois o mundo está preocupado com maus-tratos dos animais e com o abate humanitário.

“Na questão técnica, além do sofrimento dos animais ocasionado pela falta de técnicas apropriadas, o abate clandestino provoca a baixa qualidade da carne, pois causa, por exemplo, o aumento na concentração de ácido lático, que leva a contratura muscular, resultando em uma carne mais dura”, explica Soares, comentando que o governo tem atuado no sentido de coibir esta prática que resulta nos maus-tratos aos animais.

Por: Maria Karina / Fotos: Jarbas Nogueira (Noticia em Foco)

Nenhum comentário:

Postar um comentário