13 de out. de 2014

Menino de 12 anos recebe primeiro transplante de pele da Bahia

Redação Portal Cleriston Silva PCS 

Em um procedimento inédito na Bahia, um menino de 12 anos passou por um transplante de pele, em Salvador. Ele recebeu alta nesta segunda-feira (13), após passar 40 dias internado no Hospital das Clínicas.

Jeferson recebeu a pele transplantada no dia 25 de agosto, para corrigir uma lesão séria causada por queimadura elétrica. A criança, natural de Candeias, região metropolitana de Salvador, estava internada no Hospital Geral do Estado (HGE) há 11 meses e foi encaminhada ao Hospital das Clínicas por solicitação da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB).

Valber Menezes, coordenador do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas, explica que a pele utilizada para o transplante pode ser de qualquer pessoa. No caso de Jeferson, a pele utilizada na cirurgia foi a de um banco de pele em Porto Alegre, pois na Bahia ainda não existe esse tipo de banco. O médico conta que a origem da pele, inclusive, foi alvo de curiosidade do paciente.

"Jeferson brincava com a gente, dizia: ‘poxa doutor, essa pele vai ser de alguém famoso? Você vai ter que me dizer o nome da pessoa, se é famosa, para que eu fique sabendo'. Eu disse que não sabia quem era a pessoa", conta Menezes. "A pessoa que vai ao banco, que faz o transplante de pele, ele retira a pele, como se tira os outros órgãos de pessoas que morrem. Se remove a pele, descelulariza a pele, o que remove todos os antígenos para que, quando colocar essa pele em outra pessoa, não haja reação", explica o médico

O garoto de 12 anos sofreu o acidente quando passava férias com o pai na cidade de Coité, a cerca de 235 km de Salvador. Adriana Assis Borges, mãe da criança, relata como foram os momentos de dor do filho. "Ele dizia: 'Mãe a senhora está sentindo a minha dor?'", lembra. "Ele dizia, 'minha mãe, eu queria que a senhora, que é gordinha, pudesse me dar pele'. Eu falei para ele: 'filho se eu pudesse eu te dava minha alma e minha vida a você'", conclui. O menino revela que gostaria de ir à igreja, agradecer. "Deus salvou minha vida", diz Jeferson.

O transplante - Segundo Valber Menezes, as células de peles utilizadas no transplante são removidas como um curativo biológico, para que o paciente não apresente reação. Com isso, ela fica inerte e pode ser colocada em outra pessoa. Após este procedimento, a pele é integrada à área do corpo queimada ou ferida, como um curativo. Depois de algum tempo, o paciente pode perder um pouco da pele, mas em áreas menores, onde futuramente poderá receber um enxerto.

"Todo o atendimento do garoto foi feito no Hospital Geral do Estado (HGE), mas como a queimadura foi muito grave, chegou um ponto em que não tinha pele para cobrir a área lesionada. Foram realizados vários enxertos, tirando pele inclusive do couro cabeludo, mas ainda assim faltou. No final faltavam 2,5 metros de pele para cobrir a área das costas e do braço. Havia lesões nas costas, nos braços e na perna", explica Valber Menezes.

O médico ainda esclarece como foi iniciado o tratamento do garoto, antes da realização do transplante. "Fizemos inicialmente um transplante autólogo de células tronco na área que não cicatrizava e, com a cirurgia, houve uma melhora. Então combinamos para fazer o transplante, para que resolvesse o problema em definitivo" afirma.

Apesar da pele ser mais fácil de ser absorvida do que os outros órgãos, o médico chama atenção para os riscos do tratamento. "A técnica é simples e curativa, mas se houver uma infecção pode haver a perda de toda a pele que foi colocada", explica.

De acordo Valber Menezes, a Sesab fez uma parceria com o banco de pele de Porto Alegre, que já existe há 20 anos, após o Hospital das Clínicas se cadastrar como transplantadores. "Já temos configurado para até o final do próximo ano uma estruturação de banco de pele e osso", diz.

Segundo informações da Secretaria de Saúde, há um projeto para o banco de pele e osso, mas ainda não há data definida para implementação.

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