19 de set. de 2019

Experimento fracassado liberou 12 milhões de mosquitos Aedes aegypti transgênicos em Jacobina

Redação Portal Cleriston Silva PCS

Um experimento fracassado feito pela empresa britânica Oxitec liberou cerca de 12 milhões de mosquitos Aedes aegypti transgênicos machos na cidade de Jacobina, no Centro-Norte da Bahia, a 200 km de Serrinha, entre 2013 e 2015. Os lançamentos foram feitos nos bairros de Pedra Branca e Catuaba. As informações são da agência alemã Deutsche Welle. De acordo com o projeto, a ideia era conter populações do mosquito transmissor da dengue, febre amarela, zika e chikungunya. Mas, os insetos transgênicos conseguiram se reproduzir e repassaram para novas gerações genes modificados em laboratório.

A solicitação de parecer técnico referente à biossegurança para liberação comercial da linhagem OX513A de Aedes aegypti, geneticamente modificada para expressar um traço letal condicional e um gene marcador fluorescente com a finalidade de controle do Aedes aegypti, foi deferida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em 2013.

Segundo o parecer feito pela CTNBio, o experimento foi liberado mesmo ainda não existindo experiência com a liberação destes organismos. A intenção do Ministério da Saúde era reduzir a população de mosquitos em 90%.

A mudança genética foi projetada para que a primeira geração de mosquitos não alcançasse a fase adulta, assim a reprodução não ocorreria. No entanto, segundo a agência alemã, isso funcionou apenas no teste de campo. Depois de 18 meses após o final do experimento, a população de mosquitos voltou a crescer alcançado o volume anterior ao teste.

As alterações genéticas dos mosquitos presentes na região foram estudadas por pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, entre 27 a 30 meses após a sua liberação. Eles concluíram que partes da mudança genética produzida em laboratório migraram inesperadamente para a população-alvo dos mosquitos locais.

Um estudo publicado, na terça-feira (10), na revista especializada Nature: Scientific Reports, revelou que nas várias amostras, entre 10% e 60% dos mosquitos ocorreram alterações correspondentes às dos transgênicos no genoma. Acredita-se que se o teste de campo tivesse ocorrido como inicialmente previsto pelos cientistas, a modificação genética não teria passado adiante para as populações locais pois os descendentes dos transgênicos liberados originalmente não seriam capazes de se reproduzir.

No entanto, a partir de experimentos de laboratório, já era de conhecimento que uma pequena proporção, de cerca de três a quatro por cento dos descendentes de mosquitos OX513A poderia atingir a idade adulta. Mas, os cientistas responsáveis pelo experimento presumiram que eles seriam fracos demais para se reproduzir.

Os autores do estudo publicado na revista relataram ainda que os mosquitos, tanto antes quanto após o experimento, continuaram igualmente potenciais transmissores das doenças. Além disso, as equipes de pesquisa em torno de Jeffrey Powell, em Yale, alertaram também que a nova população de mosquitos, criada a partir da liberação dos insetos transgênicos, pode ser mais resistente do que a anterior.

O laboratório de pesquisas de Munique Testbiotech criticou a Oxitec por ter iniciado os testes de campo sem estudos adequados. “Os experimentos da empresa Oxitec levaram a uma situação em grande parte incontrolável”, disse o diretor do laboratório Christoph Then. O especialista ressaltou também que o incidente deve gerar consequências para o uso futuro da engenharia genética.

MP-Ba - Procurado, o representante da Promotoria de Justiça Especializada em Meio Ambiente de Âmbito Regional, em Jacobina, o promotor de Justiça Pablo Almeida, explicou que o caso deveria ser acompanhado pelos órgãos federais, pois a liberação foi feita pela CTNBio. No entanto, ele ressaltou que o órgão analisa a legislação para ver de que forma poderia se dar a atuação estadual.

A reportagem tentou contato as assessorias do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e do Ministério da Saúde, mas até a publicação nenhum esclarecimento foi enviado.

Outro lado - À reportagem, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações informou que acompanha a situação e possui pessoal técnico destacado para monitorar e, se necessário, obter novos estudos e análises sobre o tema.

A CTNBio informou que o artigo está sendo avaliado pela presidência e vice-presidência que consultaram também outros pesquisadores independentes. A comissão destacou também que uma avaliação inicial apontou que o artigo demonstrou a ocorrência de um mosquito híbrido, mas não foi comprovado que esse inseto é mais resistente às estratégias de controle e/ou capaz de causar qualquer tipo de dano às pessoas e meio ambiente.

A reportagem tentou contato com a Oxitec, mas não teve nenhum retorno.

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