28 de mai. de 2020

Eduardo Bolsonaro cita 1964 e fala em militares para pôr ‘pano quente’ em crise entre Poderes

Redação Portal Cleriston Silva PCS

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse nesta quinta-feira (28) que será natural se a população recorrer às Forças Armadas caso esteja insatisfeita com o desempenho do Congresso Nacional e do STF (Supremo Tribunal Federal). Apesar de dizer que um golpe militar não vem sendo discutido, o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) citou o golpe de 1964 como exemplo de “clamor popular” por uma intervenção dos militares para dirimir problemas entre os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.

Em entrevista à Rádio Bandeirantes, o deputado afirmou que o STF vem interferindo no Poder Executivo e que isso poderia levar a uma insurgência por parte da população. “E vou me valer de novo das palavras de Ives Gandra Martins: o poder moderador para reestabelecer a harmonia entre os Poderes não é o STF, são as Forças Armadas”, disse Eduardo. “Eles [Forças Armadas] vêm, põem um pano quente, zeram o jogo e, depois, volta o jogo democrático. É simplesmente isso”, afirmou.

O filho do presidente lembrou o golpe de 1964 —que durou 21 anos e impôs a ditadura militar, com restrição de direitos e perseguição a opositores. Ele disse que a população foi às ruas e que era um período de grande instabilidade, fazendo indiretamente uma associação com a fase vivida atualmente.

“Os militares só entraram em ação depois do clamor popular. Ninguém quer isso. No entanto, as pessoas que não conseguem enxergar dentro do STF e no Congresso instrumentos para reverter esse tipo de desarmonia entre os Poderes, eles se abraçam no artigo 142”, afirmou. O citado artigo da Constituição Federal —promulgada em 1988, após o período de ditadura— diz respeito sobre os direitos, deveres e a organização das Forças Armadas. Nele, fica esclarecido que as Forças Armadas são subordinadas ao presidente e que compete a elas a garantia dos poderes constitucionais.

Eduardo criticou o Supremo por causa do inquérito que investiga uma suposta interferência do presidente Bolsonaro na Polícia Federal e pela ação desta quarta-feira (27) autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, que determinou busca e apreensão em casa de apoiadores e deputados bolsonaristas, no âmbito do inquérito das fake news. “Nesse momento ninguém deseja conflito, mas os ministros [do STF] estão esgarçando essa corda”, disse Eduardo.

“Muita gente acha que é tudo arquitetado. O gabinete do ódio é falácia”, continuou. “Gabinete do ódio” foi uma expressão cunhada durante a CPI das Fake News. Segundo opositores do governo, servidores de dentro do Planalto promovem fake news e ameaças contra autoridades na internet. O palácio nega. Eduardo ainda fez críticas diretas a Alexandre de Moraes, a quem acusou de extrapolar limites. “Não é todo o Supremo. Mas eu, como deputado, ainda acredito que tenho direito para falar o que penso. O Alexandre extrapolou todos os seus limites. Isso é uma vergonha para o STF. A população enxerga a atuação como um todo.”

Referindo-se ao pai, o parlamentar continuou: “A população elege um presidente para quebrar uma década de corrupção. Todos estão enxergando que ele é vítima. Hoje [quinta] ele fez um desabafo. E o golpe final do Alexandre Moraes contra os conservadores foi a busca e a apreensão”. Eduardo afirmou ainda que “daqui a pouco ele tá exigindo o celular do presidente sem motivo. O STF é guardião da Constituição, mas não está acima dela”.

O presidente Bolsonaro não é investigado formalmente no inquérito das fake news, e nenhuma das ações da operação autorizada pelo STF envolveu diretamente o presidente, apenas aliados seus e apoiadores. Em live na noite desta quarta-feira ao lado de alvos da ação do Supremo, Eduardo defendeu uma reação enérgica a ministros da corte e tratou uma ruptura como inevitável.

“Até entendo quem tem uma postura moderada para não chegar num momento de ruptura, de cisão ainda maior, de conflito ainda maior. […] Mas falando abertamente, opinião de Eduardo Bolsonaro, não é mais uma opinião de se, mas de quando isso vai ocorrer”, afirmou o deputado.​

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