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Ioiô vive em casa sem energia, mas não dispensa paletó |
O homem, que desde a década de 1980 é aposentado por invalidez em função de problemas mentais, virou sensação na cidade. “Um rapaz foi tirar um extrato umas 7h da manhã e viu uns pacotes estranhos e saiu correndo. Ioiô entrou lá, pegou dois pacotes (que estavam sobre os caixas eletrônicos) e colocou do lado de fora do banco. Ele ficou gritando que estava mole e começou a apertar sem saber o que era”, conta o motorista Aloísio Emídio, morador da cidade. Eram as bombas.
A explosão dos dispositivos foi feita no final da manhã de quarta-feira pelo Esquadrão Antibomba do Comando de Operações Especiais da Polícia Militar (COE). “Deu para ouvir o barulho da minha casa, que fica mais de 3 quilômetros distante daqui. Foi um pipoco de dar susto”, conta o motorista. Ioiô perambula pela cidade diariamente e ontem, por onde passava, recebia a atenção da população. “Ô, herói! Vai trabalhar agora no Esquadrão Antibomba é?”, perguntava o aposentado João da Silva, que diariamente encontra.
Ioiô no mercado municipal da cidade. “Agora sou do banco. Pego a bomba e tiro mesmo”, brincava Ioiô, que passou o dia de ontem dizendo que iria fazer parte da Swat, grupo de elite da polícia americana.
Na rua, quando era chamado de herói, começava a cantarolar: “Eu sou de todo mundo e todo mundo me quer bem”, versos da canção Já Sei Namorar, de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown. Esse último, segundo Ioiô, é seu “maior fã”.
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Inês, irmã de Ioiô, lamenta que a filha não o visite; Gilcimar (azul) e Josemar em frente à agência ‘salva’ |
Segundo a polícia, os explosivos foram colocados na agência por seis homens que pretendiam explodir o terminal. As bombas seriam acionadas por um cigarro que apagou antes da detonação. O mototaxista Gilcimar de Lima, que trabalha no ponto em frente à agência, conta que também pegou nos explosivos. “Se Ioiô pegou eu pensei que podia pegar também. Fui lá e vi que o cigarro que eles tinham botado para explodir o banco tinha apagado. Peguei lá na bomba. Ainda bem que não explodiu”, diz Gilcimar.
Sofrimento - Augusto mora sozinho no povoado Sobradinho, distante 3 quilômetros do banco, que fica no centro da cidade. Divorciado, ele sofre de problemas mentais desde 1975, segundo relata sua irmã. “Ele vivia com a mulher e a filha pequena em Periperi, em Salvador. Um dia ele teve um surto e botou fogo na casa. Depois desse dia não acertou mais o juízo. Ficou internado no Sanatório São Paulo e depois fugiu pra cá”, relata Inês.
Inês mora na casa em frente à do irmão, mas diz que não consegue cuidar dele direito. “Ele não quer tomar remédio nem ir para médico. Fica só tomando pinga e andando aí para as cidades vizinhas”, diz.
A irmã conta que Ioiô vivia em Salvador desde a adolescência, quando foi levado para a capital para estudar por uma vizinha da família. “Fez até o segundo grau e trabalhava no Mosteiro de São Bento, ajudando os padres. Era como se fosse um sacristão”, relembra a irmã. Nenhum representante do mosteiro foi encontrado para falar sobre Ioiô.
Ainda segundo a irmã, no mosteiro, Augusto conheceu a esposa e logo se casaram. “Eles tiveram uma filha, que hoje é professora, mas tem mais de 20 anos que elas não aparecem aqui para ver ele. Da última vez, ele estava surtado e elas disseram que nunca mais iam voltar”, conta Inês. Desse período da vida, Augusto não se lembra. “Salvador? É a capital do Brasil. Nunca fui lá. Só sei que agora sou herói”. (Correio da Bahia)
