Redação Portal Cleriston Silva PCS
Três dias após confirmar suas denúncias de envolvimento de políticos do PT com desvios no Instituto Brasil, em entrevista por e-mail ao CORREIO, a presidente da ONG, Dalva Sele Paiva, abriu ainda mais o jogo. Dessa vez, com direito a viva voz.
Em três gravações divulgadas ontem no site da revista Veja, a ex-militante petista reafirma novamente as denúncias e fornece detalhes sobre suas ligações com expoentes do partido. Revela ainda que já começou a colaborar com as investigações do Ministério Público (MP) e garante estar pronta para depor e entregar às autoridades provas que diz ter sobre o esquema abastecido com verbas de programas habitacionais.
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Dalva Sele, o então secretário de Desenvolvimento Urbano da Bahia, Afonso Florence, e a deputada estadual Maria Del Carmen durante cerimônia para lançar um conjunto habitacional destinado a famílias carentes, em 2007 |
Na primeira gravação, Dalva Sele - que está em Barcelona, Espanha - revela ter mantido contato com a promotora Rita Tourinho nos últimos dias. Tourinho é responsável pelas investigações abertas no MP da Bahia para apurar desvios de recursos do Fundo de Combate à Pobreza destinados à construção de casas populares no estado.
“Eles (o PT) dizem que estou fugindo do Ministério Público. Não é verdade. Já falei com doutora Rita por telefone duas vezes, ela está disposta a vir aqui para colher meus depoimentos ou aguardar que eu chegue à Bahia para prestar esclarecimento. Disse que estou inteiramente ao dispor dela e das autoridades brasileiras para prestar esclarecimentos e mostrar as provas que tenho”, afirmou.
Creche e dinheiro
- A segunda gravação traz relatos de Dalva sobre as relações dela com integrantes do alto escalão do PT baiano. O primeiro citado é o deputado federal Nelson Pellegrino. “É uma pessoa que, inclusive, já foi algumas vezes à minha casa, ia ao instituto sempre”, disse.
Ela contou ter erguido uma creche na Avenida Peixe, bairro da Liberdade, a pedido do parlamentar. “Construí com recursos do instituto”, completou. “Quantas vezes ele foi ao instituto, quantas vezes ele me pediu para fazer reunião no fim da tarde, lá”, continuou.
Dalva Sele mira também no candidato do partido ao governo do estado. “A mesma coisa é Rui Costa, que ia lá no instituto, que recebeu dinheiro, sim. Uma ex-mulher dele, que acho que é Célia o nome, foi lá no instituto pegar recursos pra campanha dele”.
Lista de nomes
- Na terceira gravação divulgada no site da Veja, Dalva Sele faz um desabafo sobre o passado como petista e lista nomes de pessoas ligadas a políticos da base aliada que, segundo ela, trabalharam ou prestaram serviços à ONG. “Se eu fosse esse monstro que eles estão querendo me transformar, a irmã de Nelson Pellegrino não tinha trabalhado no instituto, (Jorge) Solla (ex-secretário de Saúde do estado) não teria prestado serviço”, relatou.
A lista de nomes citados pela presidente da ONG inclui ainda o filho da deputada estadual Maria Del Carmen, André Fidalgo; o ex-presidente do PT Pery Falcón; e a servidora Ednalva Lago, mulher do secretário estadual para Assuntos da Copa (Secopa), Ney Campello, membro da cúpula do PCdoB estadual.
“É muito simples agora as pessoas acharem que eu não presto. Porque eu prestava na época que eles trabalhavam lá, porque eu prestava na hora em que eu podia servir ao partido, podia dar recurso? É a tática deles, do desespero, porque a Bahia toda sabe que eu militava e que eu contribuía com o partido. Agora, nesse momento, eles querem me desqualificar”, desabafou.
MP
- Ao CORREIO, a promotora Rita Tourinho confirmou que vem mantendo contatos recentes com Dalva Sele. “Ela citou uma série de fatos novos, além de confirmar as denúncias também. Ela garantiu ainda ter documentos que provariam as acusações, mas que eles não estão com ela na Espanha. Estão guardados aqui na Bahia”, adiantou.
De acordo com a promotora, os dados fornecidos por Dalva fundamentaram pedidos de quebra de sigilo bancário de pessoas citadas pela presidente da ONG. “Também estamos cruzando informações e fazendo levantamentos em contratos e convênios, com base no que ela nos contou”, disse.
Outro lado
Procurado, Rui Costa se negou, por meio de sua assessoria de imprensa, a comentar o teor das novas gravações. Pellegrino, também via assessoria, não havia respondido à reportagem até o fechamento desta edição. A Secopa informou que o secretário Ney Campello não falaria sobre o caso.
A assessoria da deputada Maria Del Carmen, que foi chefe de Dalva na prefeitura durante o governo Lídice da Mata (1993-1997), disse que a parlamentar já havia confirmado à Veja que o filho, André Fidalgo, trabalhou para o instituto e que um irmão da petista recebeu R$ 65 mil da ONG como pagamento de dívidas. Os demais citados não foram encontrados pelo CORREIO.
Ouça as gravações aqui
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